O brasileiro não tem um minuto de sossego. Essa frase, que virou meme na internet, parece ter sido criada sob medida quando o assunto é o combate à fraude. Prova disso é um levantamento feito pela Serasa Experian, que aponta que, no Brasil, a cada 8 segundos uma tentativa de golpe é executada. Literalmente, o brasileiro não tem um minuto de sossego.
Aliás, neste sentido, é possível se referir ainda a uma outra brincadeira que rola na internet e dizer que o ‘golpe tá aí – e cai até quem não quer!’. Entre junho de 2020 e junho de 2021, seis em cada dez internautas sofreram algum tipo de fraude financeira, segundo pesquisa Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas e Serviço de Proteção ao Crédito (CNDL/SPC). No montante, isso representa um prejuízo de R$ 2,7 bilhões, incluídos gastos na busca de reparação do problema.
O combate à fraude é um desafio ainda maior quando relacionado ao universo financeiro. A expansão de fintechs e serviços bancários digitalizados tem se mostrado um terreno fértil para a ação de criminosos por conta do aumento crescente de usuários e das falhas de segurança na tecnologia de aplicativos e sistemas.
A seguir, entenda mais sobre este cenário, os desafios a serem vencidos no combate à fraude e como o uso da Inteligência Artificial pode contribuir para a solução deste problema.
Grandes oportunidades trazem grandes desafios
A revolução tecnológica representa para o setor financeiro um mar de possibilidades. E não é preciso ir longe para perceber isso, basta fazer uma autoanálise: quantas vezes você já consultou o extrato da sua conta bancária pelo celular? Com qual frequência você usa o app do seu banco para fazer um PIX? Quantas compras online você realizou recentemente? Quantas vezes recorreu ao chat disponível no aplicativo de uma instituição financeira para solucionar dúvidas ou problemas?
Não à toa, os reflexos dessa digitalização das operações bancárias podem ser percebidos no dia a dia das pessoas e chamam a atenção quando são contabilizados em um montante, como o levantado pela pesquisa realizada pela Febraban, que revelou que transações por celular correspondem a 51% do total de todas as operações bancárias. E que o PIX já tem 96,8 milhões de contas cadastradas.
E grandes oportunidades trazem grandes desafios. À medida em que as pessoas têm confiado mais e recorrido com mais frequência à tecnologia como intermediadora de processos bancários, mais os criminosos têm se aproveitado disso.
Nesse sentido, encontrar formas de mitigar riscos de golpes passa a ser um desafio tanto para as empresas, que podem ter grandes prejuízos financeiros e de reputação, como para os consumidores, que se arriscam diariamente a terem seus dados roubados e a perder dinheiro.
Quem eu sou, o que possuo e o que eu sei
De modo geral, um bom sistema de segurança deve proteger os consumidores em três esferas: quem eu sou – que tem como exemplos de recurso a biometria ou verificação pessoal; o que eu possuo – que engloba celulares e tokens digitais; e o que eu sei – que é a senha.
Entretanto, conseguir eficiência na implementação dessas três barreiras não é uma tarefa das mais simples. Tanto que muitos bancos, fintechs e instituições financeiras adotam a premissa de que essa responsabilidade cabe ao consumidor, uma vez que o aparelho telefônico é de uso pessoal e deve ser protegido por seu dono. Há, inclusive, decisões jurídicas em favor do banco, desobrigando o reembolso de fraudes cometidas após roubo de aparelho.
Neste ponto do texto você pode estar pensando: ‘se roubarem meu celular, não tem problema. O app do banco só abre com as digitais’. O que pouca gente sabe é que burlar essa etapa é mais simples do que parece.
Isso porque a maioria dos aplicativos de bancos se utilizam de uma autenticação simplificada por meio do uso de biometria, o que significa que a digital utilizada para acesso é comparada à que é cadastrada no aparelho e não no sistema da instituição.
Na prática, a fraude pode ocorrer desta forma: um criminoso – ou até mesmo alguém próximo e mal-intencionado – pode pode pegar o celular em funcionamento e já desbloqueado (como é o caso da quadrilha que furtava aparelhos de motoristas que estavam utilizando o sistemas de locomoção por GPS, em São Paulo), cadastrar uma nova biometria no smartphone e, depois, fazer login no app do banco.
Inteligência Artificial no combate à fraude
A Inteligência Artificial tem se mostrado uma das ferramentas mais eficazes no combate à fraude. Simulando a inteligência humana, porém com capacidade para analisar grandes volumes de dados em curto período de tempo, a IA é capaz de identificar padrões, cruzar informações, diagnosticar o comportamento de um usuário e traçar um perfil capaz de prevenir fraudes, bloqueando ações maliciosas.
Em situações práticas é possível realizar uma análise preditiva e dizer se uma tentativa de compra em e-commerce é legítima ou se trata-se de uma tentativa de golpe. Por exemplo: antes de liberar uma compra, em questão de segundos o sistema consegue cruzar dados de consumo do usuário, como frequência, tipos de produtos, valores gastos em cada compra, gadgets utilizados e formas de pagamento, para determinar a autenticidade de uma transação.
Neste contexto, é o machine learning — ou aprendizado da máquina, como também é conhecido — que permite que a IA se utilize de um conhecimento previamente adquirido para promover a segurança dos usuários do sistema.
Outra frente de atuação dessa tecnologia pode ser a relacionada ao reconhecimento facial, derivada da combinação com a visão computacional.
Na prática, o sistema que reúne Inteligência Artificial e visão computacional consegue detectar informações a partir de imagens que revelam pontos biométricos dos rostos dos usuários, interpretar esses dados e tomar decisões.
Não sem motivos, a previsão é de que no futuro — e ele nem está tão distante assim — a Inteligência Artificial será a maior responsável pelo controle de processos imprescindíveis para a segurança de uma organização, de suas operações e de seus clientes.
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